Manifesto
Adriane Imbroisi e Claudia Leite
5/8/20241 min read
Vivemos na era da velocidade. Da informação sem pausa, da opinião sem reflexão, da criação de filhos como mais um projeto a ser bem-sucedido. Mas quem ousa, hoje, parar para perguntar: o que significa, de fato, educar um ser humano?
Nunca tivemos tanto acesso a teorias, livros, cursos, especialistas. Mas nunca estivemos tão perdidos. A arte da parentalidade — essa prática ancestral, intuitiva e profundamente humana — foi sequestrada pelo excesso, pelo medo de errar, pela urgência de acertar. E, assim, nos tornamos pais e mães exaustos, hiperinformados, mas emocionalmente órfãos de nós mesmos.
Este manifesto nasce da escuta. Da escuta das dores das gerações passadas, dos silêncios não nomeados, das expectativas invisíveis que atravessam famílias como heranças emocionais não resolvidas. E também da escuta de crianças que clamam, sem palavras, por presença real — e não por perfeição.
Estamos testemunhando um colapso simbólico entre as gerações. Os rituais de passagem desapareceram. As histórias que davam sentido à infância foram esquecidas. As emoções, tratadas como problemas a serem controlados. Nesse cenário, a parentalidade deixou de ser relação para se tornar performance.
É preciso reaprender. Reaprender a escutar, a nomear, a se responsabilizar. A entender que nossas dores não resolvidas se tornam as vozes internas dos nossos filhos. Que nossos silêncios emocionais ensinam mais do que nossas palavras. Que educar é, antes de tudo, transformar a si mesmo.
A alquimia da parentalidade consciente é um convite. Um chamado à reconexão com o que foi esquecido:
A sabedoria silenciosa da presença.
A ética do vínculo.
A coragem de romper ciclos sem romper afetos.
A delicadeza de olhar para dentro, antes de apontar para fora.
Não trazemos respostas prontas. Trazemos espelhos, perguntas, caminhos. E, sobretudo, uma proposta de reconectar pais e filhos não apenas como papeis sociais, mas como almas em encontro. Porque educar é um ato espiritual, mesmo quando feito em meio ao caos. Porque há ouro oculto no trabalho cotidiano de cuidar, escutar e amar.
Que este manifesto seja uma porta.
E que cada leitura seja o começo de um retorno.
Para ti. Para o outro. Para a linhagem que começa ou recomeça com você.